Quando o sol vai levando a manhã
Leva com ele um pensamento muito leve
Que diz que a noite faz escurecer a noite
Faz escurecer a noite, faz escurecer
Que diz que a noite faz escurecer a noite
Faz escurecer a noite, faz escurecer
Uma canção pra ser bem popular
Tem que ser bela e muito fácil de cantar
Tem que ser doce como o anoitecer da noite
Como o anoitecer da noite não consegue ser
Tem que ser doce como o anoitecer da noite
Como o anoitecer da noite não consegue ser
…
Quando o concreto discreto retira
Da minha vista
Um horizonte
Feito cortina
A poesia
Ficou perdida
E qual retina
Encontraria
Sobre a cidade
Uma alegria
De luz e cor
Mas tudo passa
Nesta oficina
Uma saudade
Refinaria
Outra canção
A fresta do cinza que soca, sufoca
O resto, o gesto, o protesto do raio de sol
A velha apatia urbana
Cativa, rotina, o dia que vê
O discreto silêncio
E cor que não há
A cega retina querendo encontrar
Tanta luz... em tão pouca vida
Onde andaria
Esta alegria
De shopping Center
Com luz e gente
Neste natal
Mas tudo passa
Vira uma farsa
Disfarça o couro
Na lã do novo
Um ditador
Eu sou tropical, alegria, toda rebeldia
Meu sexo é livre, sou jovem demais
Eu tenho uma grande leveza
Muita natureza, eu durmo na paz
Eu eco do eco das tristes vogais
Frequente no meio dessas capitais
Tanta luz... em tão pouca vida
lguns afetos
Silenciados
Buscam nos muros
Seu dialeto
Outra versão
E a canção
Solenemente
Pretensiosa
Às vezes toca
Às vezes não
Rebento da noite, potência de vida
A greta dos brotos de PANCs*, outros rituais
A vida que existe, persiste e que finda
Vereda reedita nas fendas banais
Em tempo e aquém de outro deus magistral
Entre pares errantes de um mundo real
Tanta luz... em tão pouca vida
PANC do asfalto
Sobre a cordilheira
De concreto e cinza
Bendita dor
Que me invade
Há de passar
Feito as vontades
Como as canções
-------
*PANCs - Plantas Alimentícias Não Convencionais.